O Culto Fragmentado

O culto que prestamos a Deus não deve ser feito de fragmentos desconexos. O culto precisa se constituir de peça única, com inicio, meio e fim.

Há que ser dinâmico, sem ser extravagante. Alegre, sem apelar para o ridículo. Respeitar as características de cada participante, sem ferir a sensibilidade do adorador. Por isso, precisa ter sequência em que o clímax leve o participante a se extasiar, agradecido, ante a glória do Senhor. No seu término, os participantes deveriam repetir em sua intimidade a expressão de Pedro no monte da transfiguração: “Senhor, bom é estarmos aqui…” (Mt 174). O desejo de permanecer cultuando, de voltar ao santuário, de que o culto não termine, deixando a sensação de “ quero mais” e vou voltar a este lugar para adorar, porque sinto a presença de Deus falando-me ao coração – nada disso pode ser dispensado do verdadeiro culto.

Quando isto ocorre,o culto atingiu o seu objetivo. A ordem foi elaborada com antecedência, e onde as partes se encaixam com absoluta alegria espiritual. É o verdadeiro encontro com Deus, que deixa marcas profundas na vida do participante. Vemos essa realidade nos encontros de alguns personagens bíblicos com Deus, no passado. Ao terminar o encontro com o Senhor, erigiam um altar para eternizar aquele momento santo e sublime. É o culto que faz bem à alma. Não há cenho cerrado por causa do barulho. A paz que reina no ambiente conduz-nos à intimidade com Deus.

Deixamos o santuário alegres pelo privilégio de cultuar. Às vezes tristes e reflexivos, porque a Palavra transmitida apontou falhas que precisamos corrigir. Em algumas situações as lágrimas brotam, anunciando que os nossos sentimentos foram tocados. Saímos com as melodias dos hinos que serão lembradas no decorrer da semana. O versículo-base da mensagem não é esquecido. Continuará por vários dias a falar aos nossos corações. Tal verdade oferecerá ao Espírito Santo ampla oportunidade para ministrar os propósitos divinos em nossas vidas. Em suma: o culto nos fez bem e nos alimentou. Deixamos o santuário desafiados a uma comunhão mais íntima com Deus.

A mensagem bíblica extraída, não da internet ou de comentários, mas da Bíblia, exerce sua verdadeira função qual espada do Espírito a penetrar o mais íntimo do nosso ser. A mensagem nos confronta. Diz-nos que somos pecadores e que carecemos de arrependimento. E Deus na sua misericórdia oferece-nos perdão e edificação espiritual. A igreja é edificada.

De certa feita disse aos meus alunos: “Mensagem boa não é aquela em que o pregador recebe tapinhas à porta do templo, mas a que os ouvintes saem com raiva do pregador pelo confronto do Espirito em seus corações. Jamais esquecerão a mensagem e o pregador. O animador de auditório e o contador de piadas cedo serão esquecidos.”

Porém, estamos na era de igreja sem púlpitos. No lugar que pertencia ao púlpito reina soberana a bateria. Ao pregador é oferecida uma estante na qual mal cabe a Bíblia fechada. Como o sermão não foi preparado, não carece de esboço. Vale a inspiração do momento. Ouvi há dias um excelente pregador que transmitiu excelente mensagem. Ao final pediu desculpas aos ouvintes por apresentar-lhes um apelo a serem melhores cristãos. Já pensou em João Batista, Jesus, Paulo, Jeremias. Moody, Billy Graham e outros pedindo desculpas aos seus ouvintes por apelar a que se arrependessem dos seus pecados? Nem pensar!

Chegamos à época do culto fragmentado, não do culto segmentado, mas fragmentado, retalho de várias cores. A cada fragmento é dado um valor. O prelúdio tem valor 0,1. Os hinos com mensagens bíblicas valor 0,0. Várias oraçõezinhas pelo dirigente do “louvor” valor 0,2. Leitura da Bíblia, valor 0,01. Cânticos com erros de português, heresias, oferecendo auto-ajuda, exigindo algo de Deus e outras aberrações em total afronta à Bíblia, nota 9,39. Mensagem pregada 0,3. Resultado: igreja sem doutrinas. Crentes famintos da Palavra de Deus, que com razão durante a semana procuram os ricos pregadores da mídia, em busca das bolotas que o filho pródigo disputava com os suínos.

Para justificar todos os descalabros modernos, há quem tente afirmar que Jesus não tinha agenda, pregava de improviso e nunca estudou. Esquecem os míseros pecadores-pregadores que Jesus não precisava de nenhum acessório para dar conteúdo à mensagem. A mensagem em si era viva. Jesus era a própria mensagem. O seu conteúdo divino é incontestável. Jesus é Deus, e mesmo assim sempre respeitou os seus ouvintes, oferecendo-lhes mensagens de salvação plena. Jesus jamais pregou filosofia grega.

Pecamos, como líderes, quando não alimentamos os ouvintes e as ovelhas que Deus nos confiou para conduzir aos pastos verdejantes. O pecado é maior quando não atentamos para os ouvintes que acorrem ao templo para ouvir o que Deus tem a dizer. Ao escrever à igreja em Colossos, Paulo alerta os salvos a não permitir se aprisionar à fabulas e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Cl 22). Aos coríntios o apóstolo diz que não foi prisioneiro da cultura local, mas que sua mensagem tinha como escopo “Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2:2).

A igreja na atualidade clama ao púlpito a que volte ao Cristo crucificado. Antes que seus lindos templos se transformem em hotéis, bares e locais de baladas como ocorre na Europa contemporânea. Sem púlpito comprometido com Jesus, o culto sempre será fragmentado. Roubamos do Espírito Santo a instrumentalidade da sua ação: a ausência da Palavra de Deus nos cultos.

Pr. Julio Oliveira Sanches
pastor@pastorjuliosanches.org

http://www.adiberj.org/portal/2011/09/30/culto-fragmentado/